segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Pobreza e grossura

Neste país você não pode pedir emprego e muito menos dinheiro emprestado a um conhecido sem que ele instantaneamente assuma ares paternais e comece a lhe dar conselhos, a ralhar com você chamando-o de irresponsável, leviano e miolo-mole. E dê graças a Deus de que o faça em tom bonachão e não transforme a humilhação sutil em massacre ostensivo. Finda a cena, sai todo satisfeito, com a consciência do dever cumprido, e considera-se dispensado de lhe arranjar o emprego ou o dinheiro. E você? Bem, você sai duro, desempregado... e culpado. 

Esse mesmo sujeito é capaz de, na mesma noite, oferecer um jantar tomando o máximo cuidado para que a arrumação da mesa e a distribuição dos convidados obedeçam estritamente às regras da mais fina etiqueta. 

Um indício seguro de barbarismo num povo é a atenção excessiva concedida aos sinais convencionais de boa educação e o desprezo ou a ignorância dos princípios básicos da convivência que constituem a essência mesma da boa educação.

O bárbaro, o selvagem, pode decorar as regras e imitá-las na frente de quem acha que liga para elas. Mas não capta o espírito delas, não percebe que são apenas uma cartilha de solicitude, de atenção, de bondade, que pode ser abandonada tão logo a gente aprende o verdadeiro sentido do que é ser solícito, atencioso e bom. 

Meu pai era um sujeito relaxado, que às vezes ia de pijama receber as visitas. Mas chamava de “senhor” cada mendigo que o abordava na rua, e sem que ele me dissesse uma palavra aprendi que o homem em dificuldades necessitava de mais demonstrações de respeito do que as pessoas em situação normal. Quanto mais respeitoso, mais cuidadoso, mais escrupuloso cada um não deveria ser então com um amigo que, vencendo a natural resistência de mostrar inferioridade, vem lhe pedir ajuda! Esta regra elementar é sistematicamente ignorada entre as nossas classes médias e altas, principalmente por aquelas pessoas que se imaginam as mais cultas, as mais civilizadas e — valha-me Deus! — as mais amigas dos pobres. 

Fico horrorizado quando vejo alguém enxotar um Fanelinha como se fosse um cachorro, e nunca vi alguém fazê-lo com a desenvoltura, o aplomb, a consciência tranquila de um intelectual de esquerda! Nos anos 1960, corria o dito de que ajudar os pobres individualmente era “alienação burguesa”, ópio sentimental, sucedâneo da revolução salvadora. Passaram-se quarenta anos, a revolução salvadora não veio (onde veio, os pobres encaram mais pobres ainda) e duas gerações de necessitados apertaram ainda mais os cintos em homenagem à prioridade da revolução. Mas não conheço um só militante comunista do meu tempo e do meu meio que não esteja com a vida ganha, que não ostente como um sinal de maturidade triunfante a segurança financeira adquirida graças ao apadrinhamento da mãe política que, até hoje, domina o mercado de empregos na imprensa, na publicidade, no ensino superior e no mundo editorial.

Hoje não precisam mais do pretexto revolucionário para enxotar Fanelinhas. Seu discurso tornou-se palavra social. As prefeituras e governos estaduais nos advertem, em cartazes piedosos, para não dar esmolas. Sim, a caridade individual está em baixa. Os frutos da bondade humana não devem ir direto para o bolso do necessitado: devem ir para as ONGs e os órgãos públicos, sustentando funcionários e diretores, financiando movimentos políticos, pagando despesas de aluguel, administração, publicidade e transporte, para no bem, bem no bem, se sobrar alguma coisa, virar sopa dos pobres, diante das câmeras, para a glória de São Betinho.

Há quem neste país tenha nojo da corrupção oficial. Pois eu tenho é da caridade oficial.

Ainda há quem diga: “Mas se você dá dinheiro o sujeito vai beber na primeira esquina!” Pois que beba! Tão logo o embolsou, o dinheiro é dele. Vocês querem educar o pobre “para a cidadania” e começam por lhe negar o direito de gastar o próprio dinheiro como bem entenda? Querem educá-lo sem primeiro respeitá-lo como um cidadão livre que, atormentado pela miséria, tem o direito de encher a cara tanto quanto o faria, mutatis mutandis, um banqueiro falido? Querem educá-lo impingindo-lhe a mentira humilhante de que sua pobreza é uma espécie de menoridade, de inferioridade biológica que o incapacita para administrar os três ou quatro reais que lhe deram de esmola? Não! Se querem educá-lo, comecem pelo mais óbvio: sejam educados. Digam “senhor”, “senhora”, perguntem onde mora, se o dinheiro que lhes deram basta para chegar lá, se precisa de um sanduíche, de um remédio, de uma amizade. Façam isso todos os dias e, em três meses, verão esse homem, essa mulher, erguer-se da condição miserável, endireitar a espinha, lutar por um emprego, vencer.

Na verdade, a barreira que impede o acesso de pobres e mendicantes brasileiros a uma vida melhor é menos econômica que social. Façam um teste. Quanto custa um frango? Assado, com farofa. Cinco reais no máximo, em geral menos. Quer dizer que um mendigo, pedindo esmola em qualquer das grandes capitais do Brasil, pode comer pelo menos um frango por dia, se não dois, e ainda lhe sobra o dinheiro da condução. Para você fazer uma ideia de quanto um país onde isso é possível é um país rico e generoso, tente esta comparação. Quando Franklin D. Roosevelt lançou o New Deal, um dos objetivos principais do ambicioso plano econômico foi assim anunciado pelo rádio: “Assegurar que cada família deste país tenha em sua mesa um frango por semana.” Ouviram bem? Um frango por semana para quatro ou cinco pessoas. Na época, pareceu um ideal quase utópico. Pois bem: estamos numa terra onde velhas desamparadas que se arrastam pelas ruas comem um frango por dia, onde os meninos de rua pedem esmola em frente ao McDonald’s para completar o preço de um Big Mac com fritas de três em três horas, onde os bebês famintos exibidos pelas mães em prantos usam fraldas descartáveis, onde as casas dos bairros miseráveis têm antenas parabólicas e os catadores de lixo se comunicam com seus sócios por telefones celulares.

Em contrapartida, façam outro teste: peguem um sujeito sujo e esfarrapado, encham-no de dinheiro e façam-no entrar numa loja de roupas — não digo uma loja elegante, mas qualquer uma — para comprar um terno. Será enxotado. E, se gritar “Eu tenho dinheiro!”, vai terminar na polícia, com holofote na cara, tendo de se explicar muito bem explicadinho, isto se não for obrigado a escorregar “algum” para a mão do sargento.

O mesmo pobre que pode comer um frango por dia tem de comê-lo na calçada, com os cães, porque sem acesso aos lugares reservados aos seres humanos. Está certo que você, gerente do restaurante, fique constrangido de botar um sujeito estropiado e fedido no meio dos seus clientes distintos. Mas não vê que mandá-lo comer na rua é mais falta de educação ainda? Pelo menos dê-lhe de comer num cantinho discreto, converse com ele sobre as dificuldades da vida, ofereça lhe uma camisa, uma calça. 

Seja educado, caramba! Pois se você, que está bem empregado e bem vestido, tem o direito de ser grosso, que primores de polidez pode esperar do pobre? Se um dia, cansado de levar chutes, ele o manda tomar naquele lugar, não se pode dizer que esteja privado do senso das proporções. E não me venha com aquela história de “se eu tratar bem um só mendigo, no dia seguinte haverá uma ĕla deles na minha porta”. Isso pode ser verdade em casos isolados, mas não no cômputo ĕnal: se todos os restaurantes tratarem bem os mendigos, logo haverá mais restaurantes que mendigos. Conte os mendigos e os restaurantes da Avenida Atlântica e diga se não tenho razão. Isto sem que entrem no cálculo os bares e padarias. 

O brasileiro de classe média e alta está virando uma gente estúpida que clama contra a miséria no meio da abundância porque cada um não quer usar seus recursos para aliviar a desgraça de quem está ao seu alcance, e todos ficam esperando a solução mágica que, num relance, mudará o quadro geral. Sofrem de platonismo à out-rance: creem na existência de um geral em si, dotado de substância metafísica própria, independente dos casos particulares que o compõem. 

Por isso é que, quando a propaganda do Collor inventou aquela coisa de “não votem em Lula porque ele vai obrigar cada família de classe alta a adotar um menino de rua”, eu me disse a mim mesmo: “Raios, se isso fosse verdade, eu ficaria satisfeito de votar no Lula.” Só acredito é em gente ajudar gente, uma por uma, não na mágica platônica das “mudanças estruturais”, pretexto de revoluções e matanças que resultam sempre em mais pobreza ainda.

Na verdade, quem acredita nelas erra até ao dar nome ao problema geral. Quando, revoltados ante a desgraça do povo brasileiro, gritamos “fome!”, algo está falhando na nossa percepção da realidade social. No mais das vezes, o que falta não é comida, não é dinheiro: é as pessoas compreenderem que a pobreza não é um estigma, não é uma desonra; é uma coisa que pode acontecer a qualquer um e da qual ninguém se liberta só com dinheiro, sem o reforço psicológico de um ambiente que o ajude a sentir-se novamente normal e, em suma, um membro da espécie humana. 

Entre as causas culturais da pobreza, a principal não está nos pobres: está na falta de educação dos outros.

Olavo de Carvalho, Bravo!, julho de 2000.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O Evangelho Segundo o Espiritismo de Allan Kardec: Por que não são igualmente ricos todos os homens?


Segue abaixo um belo texto extraído do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, que expõe a explicação da desigualdade material no mundo à luz da doutrina espírita.

Cabe ao homem desenvolver as máximas morais cristãs, em especial a do amar ao próximo, desenvolvendo a caridade em busca de uma evolução espiritual e moral. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho: os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade. 



"Desigualdade das riquezas

8. A desigualdade das riquezas é um dos problemas que inutilmente se procurará resolver, desde que se considere apenas a vida atual. A primeira questão que se apresenta é esta: Por que não são igualmente ricos todos os homens? Não o são por uma razão muito simples: por não serem igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar. É, aliás, ponto matematicamente demonstrado que a  riqueza, repartida com igualdade, a cada um daria uma parcela mínima e insuficiente; que, supondo efetuada essa repartição, o equilíbrio em pouco tempo estaria desfeito, pela diversidade dos caracteres e das aptidões; que, supondo-a possível e durável, tendo cada um somente com que viver, o resultado seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e para o bem-estar da Humanidade; que, admitido
desse ela a cada um o necessário, já não haveria o aguilhão que impele os homens às grandes descobertas e aos empreendimentos úteis. Se Deus a concentra em certos pontos, é para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as necessidades.

Admitido isso, pergunta-se por que Deus a concede a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos. Ainda aí está uma prova da sabedoria e da bondade de Deus. Dando-lhe o livre-arbítrio, quis Ele que o homem chegasse, por experiência própria, a distinguir o bem do mal e que
a prática do primeiro resultasse de seus esforços e da sua vontade. Não deve o homem ser conduzido fatalmente ao bem, nem ao mal, sem o que não mais fora senão instrumento passivo e irresponsável como os animais. A riqueza é um meio de o experimentar moralmente, mas como, ao mesmo
tempo, é poderoso meio de ação para o progresso, não quer Deus que ela permaneça longo tempo improdutiva, pelo que incessantemente a desloca. Cada um tem de possuí-la para se exercitar em utilizá-la e demonstrar que uso sabe fazer dela. Sendo, no entanto, materialmente impossível que todos a possuam ao mesmo tempo, e acontecendo, além disso, que, se todos a possuíssem, ninguém trabalharia, com o que o melhoramento do planeta ficaria comprometido, cada um a possui por sua vez. Assim, um que não na tem hoje, já a teve ou terá noutra existência; outro, que agora a tem, talvez
não na tenha amanhã. Há ricos e pobres, porque sendo Deus justo, como é, a cada um prescreve trabalhar a seu turno. A pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação.

Deploram-se, com razão, o péssimo uso que alguns fazem das suas riquezas, as ignóbeis paixões que a cobiça provoca, e pergunta-se: Deus será justo, dando-as a tais criaturas? É exato que, se o homem só tivesse uma única existência, nada justificaria semelhante repartição dos bens da Terra; se, entretanto, não tivermos em vista apenas a vida atual e, ao contrário, considerarmos o conjunto das existências, veremos que tudo se equilibra com justiça. Carece, pois, o pobre de motivo assim para acusar a Providência, como para invejar os ricos e estes para se glorificarem do que possuem. Se abusam, não será com decretos ou leis suntuárias que se remediará o mal. As leis podem, de momento, mudar o exterior, mas não logram mudar o coração; daí vem serem elas de duração efêmera e quase sempre seguidas de uma reação mais desenfreada. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho: os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade."


terça-feira, 18 de novembro de 2014

A crise do Direito


Nas faculdades de Direito brasileiras, como explicado por Lênio Luiz Streck[1], são ensinados, de um modo geral, apenas os “casos fáceis” (easy cases), baseados em um positivismo ultrapassado, reacionário, alienado da realidade social e das expectativas da sociedade.
Isso ocorre em grande parte, por culpa de uma legislação que não aderiu à modernidade tardia do Brasil e à Constituição Cidadã da República Federativa do Brasil de 1988, havendo, ainda, uma barreira, que impede que a legislação se adeque ao Estado Democrático de Direito do século XXI, fruto das conquistas sociais que custaram tão caro à população. Soma-se a isso a crise do Direito e do Ensino Jurídico, pois a função jurisdicional no Brasil é vista por muitos críticos[2] como ineficiente e com pouco retorno social, além de custar uma fortuna ao erário.
Os cursos jurídicos proliferam-se, a maioria deles com pouca qualidade, assim como os livros jurídicos, as dissertações de mestrado, os artigos de internet, entre outros, sem acrescentar nada de novo. A maioria dos alunos da graduação encara a monografia de conclusão de curso como um mero requisito formal para a obtenção do título de bacharel em Direito (ou do mítico título “doutor”), muitas vezes influenciados pelos próprios professores.
O que se vê são repetidas “teses” já batidas, muitas vezes plágios e cópias mal feitas uma das outras, como “a função social das empresas”, “a função social dos contratos”, “o casamento homoafetivo”, “a adoção de filhos por casais homoafetivos”, entre outros, como se não houvesse nada de novo ou mais interessantes no Direito. Ao contrário do que parece, o Direito é dinâmico e está em constante evolução, ao que se espera, para melhor. Sua aparência estática se deve em muito à jurisprudência conservadora, que muitas vezes é um mero “ctrl + c” “ctrl + v” de outras salvas nos computadores dos tribunais.
Como disse Lênio Luiz Streck em seu “Hermenêutica Jurídica e(m) Crise”[3], “De um trabalho de pós-graduação na Faculdade de Direito da USP, do longínquo de 1981, extrai-se a seguinte denúncia: 'O ensino do Direito como está posto favorece o imobilismo de alunos e professores. No esforço de renovação, uns atingem o grau de doutrinadores e o prestígio da cadeira universitária. Os outros, além do mítico título de 'doutor', obtêm a habilitação profissional que lhes permitem viver de um trabalho não braçal (white collar). A tarefa do ensino para o aluno é cumprida nestes termos: aprendido o abc do Processo e do Direito Civil, já está habilitado a viver de inventários e cobranças sem maior indagação. (…) É claro que este operário anônimo do Direito é necessário, mas por que deve ser inconsciente? (…)
Sua atividade passa a ser meramente formal, sem influencia no processo de tomada de decisão e no planejamento. O jurista formado por escolas, convém lembrar, não será apenas advogado: será também o juiz que fará parte, afinal de contas, de um dos poderes políticos do estado. A alienação do jurista, deste modo, colabora também na supressão das garantias de direitos. É que o centro de equilíbrio social (ou de legitimação) é colocado na eficiência, não no bem do homem. Começa-se a falar em um bem comum que só existe nas estatísticas dos planejadores, mas que a pobreza dos centros urbanos desmente. E, em nome desse bem comum, alcançável pela eficiência, sacrificam-se alguns valores que talvez não fosse inútil preservar'. Repito a pergunta feita anteriormente: o que mudou de lá para cá?
Respondendo a pergunta do nobre jurista, Lênio Luiz Streck, lamentavelmente, a resposta é afirmativa, e para pior. Agora, além da situação relatada no trabalho de 1981, o que se vê é uma expansão dos cursos de pós-graduação lato sensu (especializações) de qualidade duvidosa, assim como de “cursinhos” preparatórios para o exame da OAB, semelhantes aos pré-vestibulares e a proletarização da advocacia, que recebe cada vez mais salários baixos, em razão da desvalorização da profissão e dos maus profissionais da área, a ponto de vermos a situação absurda do advogado do goleiro Bruno, em um caso de repercussão nacional, ser flagrado fumando crack, algo inadmissível, sob a desculpa de que era dependente químico desta droga, geralmente usada por moradores de rua.
São muitos os relatos sobre o desrespeito aos advogados nos tribunais e todos conhecem o fenômeno da corrida desenfreada da classe média aos concursos públicos, almejando sonhos egoístas de terem uma boa remuneração, reconhecimento e estabilidade financeira, sem contribuir para a construção de um Brasil melhor. O serviço público se tornou a regra entre todos os estudantes de classe média, em especial dos bacharéis em Direito, que não veem alternativas ou oportunidade melhor na vida, em razão da má gestão pública, da corrupção e da falta de planejamento do Poder Público.
Com a “corrida maluca” aos concursos públicos, cresceu de forma exponencial a mercantilização do ensino jurídico, com a expansão do número de faculdades e de vagas nas universidades, que criam cursos vespertinos para ocupar o espaço inutilizado das salas de aula e com isso ganhar mais dinheiro, bem como de cursinhos que abrigam estudantes sem um pensamento crítico e sem bagagem jurídica suficiente para ocupar qualquer função pública.
Surgiu a figura dos “concurseiros” e do professor “show-man”, que é capaz de, até mesmo, cantar músicas para o aluno aprender, ou melhor, decorar, as matérias ensinadas. Em vez de ensinar o aluno a raciocinar, ensinam-se técnicas mnemônicas para facilitar a memorização dos alunos. É assustadora a péssima qualidade das publicações jurídicas, a ponto de duvidarmos da seriedade de como foram feitas e a acreditar que a sua função não era a de ensinar ou de fazer o leitor refletir, mas, simplesmente para serem usadas pelo autor como títulos para concursos. Isso reflete na má qualidade na prestação de toda a atividade jurisdicional brasileira. Os poucos profissionais que levam o Direito a sério acabam se destacando no meio da multidão de bacharéis em Direito, que são muitos, diga-se de passagem.
O Direito passou a ser encarado pelos estudantes como mero “decoreba” de leis, súmulas e jurisprudências, esquecendo os alunos que o Direito é também argumentar, questionar, pensar, repensar, desenvolver novas teorias e sair “dos muros” das universidades, pois o Direito é muito fechado em si mesmo, esquecendo-se das demais ciências sociais e humanas.
Essa cultura medíocre nas faculdades de Direito tem formado uma legião de pífios, de pessoas sem iniciativa e sem criatividade, que buscam no Direito a possibilidade de se acomodarem no conforto gerado pela sinecura de um serviço público. São os bacharéis concurseiros, muitas vezes meros portadores da carteira da OAB, que não vivenciam a vasta complexidade das ciências jurídicas, transformando-a em mera técnica para passar nos concursos públicos em todo o país. Enfim, o Direito no Brasil está em crise, devendo ser repensado em prol da sociedade e das futuras gerações.




[1] STRECK, Lênio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) Crise. 8ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado
editora. 2009, pág. 81
[2] Veja Lênio Luiz Streck. Hermenêutica Jurídica e(m) Crise. 8ª ed. Porto Alegre: Livraria do advogado editora. 2009
[3] STRECK, Lênio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) Crise. 8ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado
editora. 2009, pág. 86

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O que pensa o espiritismo sobre o socialismo?

A doutrina espírita é uma das religiões que mais crescem no mundo. E não é sem motivo. Ela prega uma revolução moral e espiritual do homem, apresentando-se como uma das mais coerentes doutrinas religiosas.

No livro “O consolador” psicografado por Chico Xavier, Emanuel, espírito guia do médium, na pergunta 60, apresenta o equívoco que é o socialismo.



Poderão os homens resolver sem atritos as chamadas questões proletárias?


Emmanuel - Sim, quando se decidirem a aceitar e aplicar os princípios sagrados do Evangelho.



Os regulamentos apaixonados, as greves, os decretos unilaterais, as ideologias revolucionárias, são cataplasmas inexpressivas, complicando a chaga da coletividade.


O socialismo é uma bela expressão de cultura humana, enquanto não resvala para os pólos do extremismo.


Todos os absurdos das teorias sociais decorrem da ignorância dos homens relativamente à necessidade de sua cristianização. Conhecemos daqui os maus dirigentes e os maus dirigidos, não como homens ricos e pobres, mas como avarentos e a revoltados. Nessas duas expressões, as criaturas operaram o desequilíbrio de todos os mecanismos do trabalho natural.


A verdade é que todos os homens são proletários da evolução e nenhum esforço de boa realização na Terra é indigno do espírito encarnado.


Cada máquina exige uma direção especial, e o mecanismo do mundo requer o infinito de aptidões e de conhecimentos.


Sem a harmonia de cada peça na posição em que se encontra, toda produção é contraproducente e toda boa tarefa, impossível.


Todos os homens são ricos pelas bênçãos de Deus e cada qual deve aproveitar, com êxito, os “talentos” recebidos, porquanto, sem exceção de um só, prestarão um dia, alem-túmulo, contas de seus esforços.


Que os trabalhadores da direção saibam amar, e que os da realização nunca odeiem. Essa é a verdade pela qual compreendemos que todos os problemas do trabalho, na Terra, representam uma equação de Evangelho."

sábado, 11 de outubro de 2014

O movimento transhumanista e a utopia de um admirável mundo novo

O movimento trans-humanista é um movimento filosófico emergente que visa a dotar o ser-humano de capacidades que ele não tem, muitas delas copiadas de animais. Tem como objetivo, formar um novo ser humano, os "pós-humanos", sem as nossas atuais limitações.

A ideia seria a de dissolver a imagem do ser-humano e fazê-lo um produto industrial. Por meio da manipulação genética e a integração de equipamentos eletrônicos e pessoas, o movimento trans-humanista pretende construir uma nova espécie.

Tudo se inicia com a tentativa de se impor um modelo ideal de sociedade e de felicidade. Ao logo da história, todas as tentativas de impor um modelo social de acordo com a concepção de seus criadores, resultou em mortes, barbaridades e todo tipo de atrocidade. Exemplo disso foi o comunismo e o nazi-socialismo.

Em outras palavras, a ideia é de que a forma humana seja determinada por um grupo de cientistas a serviço do governo. Isso é monstruosidade!

Aristóteles já dizia que a ciência deve partir do conhecimento do senso comum e aperfeiçoá-lo. Mas a ideia desse movimento não é aperfeiçoar o senso comum, mas substituí-lo. Ou seja, nesse novo conceito, as coisas não seriam do modo como as vemos, mas do modo como esse grupo de cientistas quer que vejamos.

No livro "Admirável Mundo Novo", o autor Aldous Huxley nos leva a fazer uma importante reflexão sobre os rumos da sociedade e da ciência.

Na sociedade relatada por Huxley, não havia fome, miséria nem nenhuma outra mazela social. As pessoas viviam em uma aparente felicidade geral. Não havia reprodução sexuada entre as pessoas, já que todas eram estéreis. A reprodução era feita laboratório e, por meio da manipulação genética, eram "fabricados" de acordo com a função que desempenhariam na sociedade. O mundo foi dividido em castas, no qual era impossível a ascensão social. Quem nascia para pertencer a uma determina casta, além de geneticamente estar dotado com as características necessárias a ela, era desde criança preparada psicologicamente, pelo Estado, para melhor desempenhar suas funções. O livro relata, por exemplo, que as crianças que nasciam para ser operários, eram colocados em uma sala com livros. Ao se aproximar dos livros, um barulho ensurdecedor era disparado, de modo que as crianças ficavam traumatizadas e perdiam o interesse pela leitura.

Nesse cenário assustador, a condição humana foi relegada à ciência e ao interesse social. Não havia liberdade. Apenas uma sombria ditadura em prol da "felicidade geral".

O livro, que é um romance, conta a história de um personagem, que após se apaixonar por uma mulher e se revoltar com aquele modelo de sociedade, foi preso em uma ilha. Aldous Huxley foi muito sagaz em sua crítica. Afinal, na ilha, longe daquele estado social, as pessoas tinha mais liberdade e a vida era mais humana.

O movimento transumanista assusta um pouco. Logo imagino que brevemente surgirá uma nova espécie humana, criada em laboratório e que nos sucederá na história. Talvez, e eu não duvido, haja uma guerra entre a nossa espécie e o novo homem vindouro. 

A ideia de quer impor um modelo ideal de sociedade, sempre abriu margem para abusos e regimes ditatoriais, Depois da própria vida, a liberdade é o valor mais importante e que deve ser preservado. Um novo homem e uma nova sociedade podem resultar em uma condição humana abominável, na qual os valores morais tradicionais seriam relegados em prol de um novo e sombrio paradigma.

sábado, 6 de setembro de 2014

Sim, Hitler era socialista!

Em 1927, Hitler proferiu o seguinte discurso, no dia do trabalho:

"Nós somos socialistas, nós somos inimigos do sistema econômico capitalista atual de exploração dos economicamente fracos, com seus salários injustos, com sua ultrajante avaliação de um ser humano e acordo com sua riqueza e propriedade ao invés de responsabilidade e comportamento, e nós estamos determinados a destruir esse sistema custe o que custar."

Sim, esse discurso foi feito por um dos maiores ditadores esquerdistas da história: Hitler. Poucos sabem, mas o nazismo representou o auge do estado social, caracterizado pela concentração de poder nas mãos do Estado e na restrição às liberdades econômicas e individuais. O nazismo se caracterizou como um estado totalitário - estado máximo ou total - e autoritário, assim como foi o regime comunista na URSS, em Cuba e na Coreia do Norte.

O nome do partido de Hitler deixa claro a sua ideologia, "Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista". Esse partido pregava a reforma agrária e defendia a colocação do bem comum sobre os interesses individuais. Foi exatamente o que eles fizeram e o resultado todos conhecem.

É comum ouvirmos pessoas dizerem que o nazismo era capitalista, que Hitler perseguiu os comunistas, que a direita é nazista etc ... Refinada estupidez!

Hitler estudou Marx e era um grande admirador de seus métodos. Diante de uma Alemanha arrasada após a primeira guerra, viu-se com a missão de implantar o comunismo, desapropriar terras e exterminar com o povo judeu, tudo em prol do bem comum.

A história nos mostra que, em 1939, nazistas e os bolcheviques fecharam um acordo de cooperação, conhecido como pacto Molotov-Ribbentrop. Eram parceiros até que o acordo fosse rasgado.

Em nome da utopia de tornar o mundo melhor, o nacional-socialismo praticou todo tipo de barbaridade. O Estado total comandava as atividades econômicas e restringia as atividades individuais. Homossexuais foram brutalmente assassinados, opositores tiveram o mesmo destino e banqueiros e fazendeiros tiveram suas propriedades expropriadas em nome desse "mundo melhor".

Em oposição a esse regime de extrema esquerda, o Estado liberal capitalista defendia, e continua defendendo, a liberdade econômica e as liberdades individuais. Nesse modelo, o estado existiria apenas para assegurar o mínimo, de forma a garantir a existência de liberdade.

Ao defender o Estado máximo, muitos se esquecem que o Estado é feito de pessoas e que se for muito grande, certamente a liberdade estará comprometida. Devemos sempre nos lembrar da importância de se defender o direito de cada um de trabalhar, viver, estudar e até mesmo de se casar, com o quê e com quem quer que seja. Somente em uma sociedade capitalista, que incentiva o trabalho e a liberdade, é que poderemos ter uma sociedade verdadeiramente plural.

Não nos esqueçamos de que todos os regimes comunistas e totalitários foram cruéis e perversos. Muitos morreram e prol da utopia de que o Estado deve ser Deus. Alain Besançon, em A infelicidade do século, disse uma grande verdade:

"O comunismo é mais perverso que o nazismo porque ele não pede ao homem que atue conscientemente como um criminoso, mas, ao contrário, se serve do espírito de justiça e de bondade que se estendeu por toda a terra para difundir em toda a terra o mal. Cada experiência comunista é recomeçada na inocência"